sexta-feira, 19 de junho de 2009

Pai do Sant'Ana



Um nenê precisa de muita atenção. O meu, em qualquer lugar que esteja, alguém tem que estar junto. Mais do que junto: a pessoa deve estar olhando para ele. Senão ele reclama. Não chega a chorar, mas emite um poderoso gemido de protesto que obriga a gente a atendê-lo imediatamente, pouco ligando para o telefone, a campainha ou o incêndio.Fico pensando: por que essa necessidade? Por que ele quer alguém por perto? Não é para trocar uma idéia, dar uma conversada. Ele não conversa. Tenho me esforçado para ensiná-lo a dizer papai, até acho que ele disse "babá" dia desses, mas duvido que saiba o que significa. No máximo, fala abu:– Abu, abu, abu...O que será abu em língua de nenê?Verdade que não posso me queixar. Sei de nenês que só dormem na cama dos pais, convertendo-se em eficiente anticoncepcional. A China deveria empregar esse método. Mas o Bernardo, não. O Bernardo fica no quarto dele, sem problemas. Só que logo depois de adormecer ele dá uma miada. Vou correndo ao quarto dele, ele abre os olhos, me vê, fecha-os e dorme de novo, para só acordar de manhã cedo. Por que deu a choradinha? Para conferir se tem alguém nas imediações, obviamente.Meu nenê está sempre reivindicando atenção.Será que vai ser assim quando crescer? Algumas pessoas que conheço têm essa característica. O Paulo Sant’Ana é um. O Sant’Ana detesta quando não é o centro das atenções. Dia desses, fomos ao bar do Atílio, o Jazz Café, e um outro amigo nosso, o Nestor Hein, sentou-se bem em frente ao Sant’Ana. Acontece que o Nestor estava rouco, naquela noite. Muito rouco, não conseguiria nem dizer abu. O Sant’Ana protestou:

– Como é que senta um mudo na minha frente!!!

Argumentei:– Mas, Sant’Ana, esse é o interlocutor perfeito pra ti: ele só vai te ouvir!

O Sant’Ana balançou a cabeça:– Quero que meu interlocutor não fale porque não quer, não porque não possa!

O Sant’Ana devia ser como o Bernardo, quando pequeno. O que me preocupa. Gosto muito do Sant’Ana, mas não queria que ele fosse meu filho!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O flerte e a dúvida



Me enganei redondamente. Pensei que o mais sublime e delicioso instante do amor se dava antes de ele ter acontecido: achei que era o flerte.
Aquela troca de olhares furtivos mas profundamente interessados, aquele fingir de nada querer tudo querendo, aquele disfarçar de indiferença, deixando notar, no entanto, que não há outra meta mais importante na vida naquele instante do que conquistar o alvo do flerte, aqueles desdéns planejados, estratégicos e maliciosos que intermedeiam o flerte, até o momento culminante desse jogo emocionante em que os quatro olhos se encontram e se fixam, aquele turbilhão de promessas imaginárias que exalam do flerte, pensei, era o flagrante mais elucidativo e saboroso do amor, maior e mais intenso e mais fogoso até do que a futura fricção dos corpos.
Mas não é o flerte o ápice exordial do amor. Experimentei o momento do êxtase do amor, também localizado nas primícias dele.
Se se for fazer um programa sobre os melhores momentos do amor, este outro instante que descobri irá para o lugar mais alto do pódio.
É quando, depois do flerte ou até mesmo da inexistência do flerte, se instalou na relação de amizade ou em qualquer aproximação entre um homem e uma mulher uma dúvida instigante e deleitosa: será que ela está me amando? Será que ele está me querendo?
Ou apenas está sendo gentil e cordial comigo? Ou deseja apenas ser minha amiga? Ou sou mais uma das pessoas que a atraíram por atributos que nada têm a ver com o amor e que apenas se destacam por assinalada sociabilidade?
Não se dorme. É impossível conciliar o sono quando esta dúvida ao mesmo tempo atordoante e deliciosa se instala na mente de alguém para quem falta apenas saber se o outro gosta e quer, para apaixonar-se perdidamente.
Digo-lhes que não há prazer mais extenso e abrasador que este: quando uma dúvida que falta pouco para se tornar certeza desejada toma conta de uma pessoa tocada pelas ondas anunciadoras do amor.
É tão avassaladoramente saborosa esta dúvida que alguns que são por ela tocados pedem aos céus que seja adiada a solução, mesmo que venha a ser favorável. Torcem para que a vida não lhes tire tão depressa aquela sensação divina de esperança.
E há até alguns que mesmo depois do amor consolidado preferem sempre ter em seu espírito esta dúvida como um nutritivo estímulo ao romance permanente. (Paulo Sant'Ana)



-> Sem comenti's! O quê que é esse Paulo Sant'Ana; como consegue escrever isso?!?!!? Mel dels!! Sem comenti's! =P

terça-feira, 16 de junho de 2009

Silêncio na mesa



"Numa dessas noites quentes da primavera porto-alegrense, acomodei-me à cadeira de um restaurante e, antes mesmo de erguer o olhar para o queixo do garçom, já havia observado o casal sentado na mesa ao lado. Atiçaram-me a curiosidade. Pareciam pouco à vontade, não falavam um com o outro. Não se olhavam. Verdade, esta não é uma cena exatamente incomum. Acontece, e sempre que acontece chama a atenção. Casais assim tornam-se ostentosos. Porque o silêncio que existe entre eles os separa, não os une. Não é um silêncio harmônico, aquele das pessoas que não precisam de palavras para conviver em paz. Ao contrário, é um silêncio de quem já não tem palavras a trocar, um silêncio vazio, que, por isso, é um silêncio ruidoso.Mas o casal que vi dias atrás era diferente dos outros que já havia encontrado. Porque os dois eram muito jovens. Não combinava com eles aquele ar cansado, aquele desânimo. Não. Um casal jovem, quando fica amuado, é porque houve briga. Um está irritado com o outro, ou ambos estão irritados. Só que aqueles dois não tinham a aparência de quem está zangado. Eles simplesmente estavam desanimados.O jantar deles transcorreu todo assim, os dois de olhar baço, sem nem se encarar. Comecei a torcer para que estourasse uma discussão entre eles. Porque, se existe raiva, se existe cobrança, existe esperança. Mas não era o caso. Eles estavam enfarados. Tão novinhos, e já desistentes.Aquilo foi me incomodando. Tinha vontade de ir lá e sacudi-los: - Façam alguma coisa! Briguem! Xinguem-se! Mas façam alguma coisa!!!Porém, não fiz nada. Fiquei olhando. Eles nem notavam. Pudera: era tão densa a aragem de desalento a envolvê-los que provavelmente não notariam nem se me levantasse, puxasse uma cadeira e sentasse entre eles.Então, quando eu mesmo ia pedir a conta, a sobremesa deles chegou. O garçom fez aterrissar na toalha um prato de bom tamanho, tendo ao centro algo que não consegui identificar, um sorvete, talvez, ou um creme qualquer. Foram postas duas colheres diante deles, mas o rapaz não fez menção de empunhar a sua. A moça, sim, ela tomou a colher e levou um bocado entre os dentes.Aí aconteceu a transformação. Ao engolir a sobremesa, ela se aprumou na cadeira, ficou ereta, seu rosto de menina se iluminou, seus olhos brilharam e ela emitiu um som pela primeira vez na noite:- Ah... - foi o que ela fez.
Só isso: ah... E o rapaz a fitou com interesse inédito. Ficou olhando-a como se só naquele instante tivesse descoberto sua presença.Ela olhou para ele. Ele continuava olhando para ela. Ela, de repente vivaz, arrancou com a colher um naco do doce e o ofereceu ao namorado. Ele piscou, pensou, mas recusou com um gesto de cabeça. Ela de pronto conduziu a colher à própria boca e, ao provar a iguaria, repetiu, fechando os olhos de prazer:- Aaah...Ele a olhava ainda mais curioso. Ela, novamente, mergulhou a colher no acepipe e, novamente, esticou a mão e a fez flutuar diante da boca do namorado. Ele vacilou, franziu a testa, jogou o corpo um centímetro para trás, mas, enfim, cedeu. Abocanhou a colher. E a mágica se fez com ele também. O garoto, mal o doce desceu-lhe pela garganta, assumiu nova postura na cadeira, arregalou os olhos de contentamento, olhou para a namorada e... sorriu! E ela sorriu para ele, e a sorrir eles ficaram, e logo estavam rindo, e um minuto depois gargalhando. A noite terminou com os dois aos beijos. Fui-me embora contente. Mas ainda me arrependo por não ter perguntado qual era o nome daquela sobremesa." (David Coimbra)
Simplesmente adoro essa cronica! David Coimbra é meu cronista preferido! Suas cronicas nos fazem parar para refletir; essa nem tanto, mas algumas são muito bem elaboradas.
Não que eu saiba alguma coisa pra estar dando palpite, não é, só não tenho o que fazer e fico aqui escrevendo bobagens!! =D
Mas, não posso deixar de escrever que essa crônica é para qualquer um, mesmo os que não gostam dele ler. Ela é mais que demais.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Twilight- a paixão da maioria das adolescentes(incluindo euô)




Escrever sobre Twilight, ou Crepúsculo, é uma coisa muuito fácil pra mim: sou apaixonada por essa série.


Crepúsculo é um livro apaixonante, quem lê o primeiro, lê o segundo e assim vai. Crepúsculo é simplesmente a história de amor perfeita!!



(...)Peguei a mão gelada, precisando de apoio mais do que eu pensava. Meu equilíbrio ainda não voltara.

-Ainda está fraca por causa da corrida? Ou foi minha perícia no beijo?- Como estava despreocupado, como parecia humano enquanto ria agora, sua face de serafim impertubável. Ele era um Edward diferente daquele que conheci. E fiquei ainda mais embriagada por ele. Podia me doer fisicamente ser separada dele agora.

-Não tenho certeza, ainda estou tonta -consegui responder.(pg.208)

Edward:

-E então, enquanto você estava dormindo, disse meu nome. Falou com tanta clareza que no começo pensei que estivesse acordada. Mas você se virou inquieta e murmurou meu nome mais uma vez, e suspirou. A sensação que me tomou depois foi enervante, foi pertubadora. E eu sabia que não podia mais ignorar você.

Ele ficou em silêncio por um minuto, provavelmente ouvindo o martelar irregular e súbito do meu coração.(...) (pg. 222)

Não tem como não se apaixonar, ou se encantar com essa linda história de amor entre uma simples e comum mortal e um lindo e imortal vampiro.

Olhos de cigana oblíqua e dissimulada...


"Aqueles olhos de Capitu, olhos de cigana oblíqua e dissimulada..."


"Dom Casmurro" é um clássico! Digamos que um texto não muito simples de se compreender, tanto por conta da linguagem de época, como pela confusão interna do personagem Bentinho, fazendo com que o leitor pare para refletir várias vezes sobre o assunto em pauta.

Com certeza não é um livro que agrade a todos,pois o final feliz, que é o que normalmente o leitor espera, não está presente nessa obra. Mas... a vida não é nenhum conto de fadas,então um pouco de realidade faz bem as vezes! =p